Uma estrada escura no interior – Uma lenda urbana japonesa
Saudações, macabretes! Trago no post de hoje uma lenda urbana japonesa. Histórias de fantasmas do Japão sempre tem um ar extra de esquisitice. É interessante pontuar a crença japonesa de que espíritos bem sucedidos vão se juntar aos ancestrais depois da morte, para tomar conta da família que ainda está viva. Não seguir este caminho é um destino terrível e atormentador. Morte violenta, negócios não acabados e ritos funerários incompletos são os responsáveis mais comuns por um fantasma maligno.
Dito isso, vamos à nossa história de hoje:
Em uma estrada escura no interior
Esta é uma história que meu avô me contou. Farei meu melhor para lembrar os detalhes e escrevê-los.
O nome dele era Shinji. Um dia, Shinji me contou uma história estranha. Essa foi a única vez que ele me contou algo do tipo, antes de morrer, muitos anos atrás.
Quando Shinji tinha por volta de seis ou sete anos de idade, seu irmão, que era dois anos mais velho, morreu de uma doença. O irmão estava muito doente e tinha o tempo contado, então meu bisavô, pai de Shinji, disse que ele deveria passar o tempo que lhe restava em casa, e que eles tomariam conta dele lá. Shinji brincava com seu irmão mais velho no quarto dele, até quando não foi mais possível. Então, à medida em que a morte se aproximava, meu bisavô pediu para ele parar com as brincadeiras.
Foi em uma noite que seu irmão morreu. Era verão e, é claro, eles não tinham um aparelho de ar-condicionado. Para evitar danificar o corpo, o pai dele decidiu levá-lo para o lugar mais perto possível em que fosse fazer os ritos funerários.
A casa de Shinji era bem no meio do nada, um lugar que não tinha nem mesmo estradas para carros passarem. Então, o pai deles decidiu levar o cadáver nas costas, e como não havia luzes no caminho, Shinji levou uma tocha.
Enquanto segurava a tocha e iluminava o caminho, Shinji andava junto de seu pai, que carregava o corpo de seu irmão morto. A estrada ali no campo era tranquila durante a noite, então eles não viram nenhuma outra pessoa. Tudo o que conseguiam ouvir eram os sons de insetos e de seus próprios pés no cascalho. Eles andaram em silêncio. Meu avô disse que a face de seu pai mostrava um homem extremamente cansado.
Depois de andarem por um tempo, eles avistaram o contorno de uma pessoa à frente deles. Parecia que a pessoa andava na mesma direção que eles, mas se movia mais devagar. Eles não pensaram muito sobre aquilo, e acharam que em algum ponto alcançariam aquela figura. Mas, quando Shinji apontou a luz da tocha para as costas da pessoa, ele ficou sem ar.
Ele já havia visto aquelas roupas em algum lugar antes.
Ele logo se lembrou onde.
Eram as mesmas roupas que seu irmão estava usando nas costas de seu pai neste exato momento. Meu bisavô notou ao mesmo tempo, e logo sussurrou: “Shinji, não o ilumine!”. Rapidamente ele abaixou a tocha, iluminando somente seus pés.
Como a “coisa” estava andando mais devagar que eles, a distância foi encurtada, vagarosamente. Shinji começou a se sentir assustado e queria parar de andar, mas ele percebeu que sempre que fazia isso, a figura em frente a eles também parava. Seu pai provavelmente notou isso também.
Bem devagar, eles foram se aproximando. A pessoa tinha a mesma altura que o irmão. Não muito depois, Shinji viu o pé dela. Estava descalço. Mesmo a estrada não tendo pavimentação, não havia marcas ou ferimentos naqueles pés.
Eles se aproximaram mais ainda.
Os shorts agora eram visíveis. Ele conhecia aquela peça. Eles eram verdes e tinham a barra feita. O garoto também viu a camisa, azul e com listras brancas. Era a favorita do seu irmão.
Agora a nuca estava visível…
Foi nessa hora que seu pai colocou as mãos nos ombros dele e disse: “Não olhe! Shinji! Não olhe!”
Shinji estava um pouco curioso quanto àquela figura, mas resolveu olhar para baixo. Seu pai estava murmurando algo que ele não conseguiu ouvir muito bem, mas parecia ser uma oração.
Eles finalmente alcançaram a figura, deixando Shinji e seu pai lado a lado com ela. O velho estava rezando e Shinji continuou repetindo para si mesmo para não olhar, mas assim que eles ficaram mais próximos, ele percebeu que “aquilo” estava olhando para ele. Ele disse que o poder por trás daquele olhar era incrivelmente forte.
Finalmente, os dois deixaram a figura para trás. Shinji disse que foi aí que tudo ficou realmente assustador.
Quando eles passaram daquela coisa, não havia muito o que ser feito. Nenhum passo ecoava na noite, mas aquilo continuava, com toda certeza, atrás deles. Bem ali, há poucos metros de distância. Shinji disse que conseguia sentir o olhar dele sobre eles.
Meu bisavô disse, “Não olhe para trás, Shinji. Aconteça o que acontecer, não olhe para trás.” Shinji mal conseguia olhar para o pai ao lado dele, quanto mais para trás. A razão para isso era o que o pai carregava nas costas.
Os dois continuaram andando pela estrada com alguma coisa os seguindo. Shinji continuou olhando para frente e rezou para que chegassem num lugar cheio de pessoas logo. Ele não sabia quando a figura que estava atrás deles poderia chamar seu nome ou saltar para cima dele, e isso fazia seu coração bater forte, enquanto ele caminhava
No fim, a figura não chamou seu nome, nem correu para atacá-lo. Os dois chegaram com segurança em seu destino, entregaram o corpo do garoto ao necrotério e voltaram para casa.
Shinji disse que não havia nada na estrada no caminho de volta. Quando eu perguntei se aquela coisa era realmente seu irmão, ele fingiu que não sabia. Ele disse apenas isto:
“Desde então, eu não consigo me livrar do sentimento de que há algo me seguindo.”
Shinji disse que quando isso acontecia, ele fazia questão de não olhar para trás.
— De gelar a espinha, não é mesmo?