Quem conhece Hellboy, cria máxima de Mike Mignola em 1993, já deve ter entendido o principal charme das suas histórias. Nelas, encontramos o detetive do Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal – BPDP curtas tendo que lidar com o sobrenatural em ótimas histórias, muito focadas em mitos do folclore das diversas partes do mundo. Com o tempo, essas curtas passagens criaram uma trama maior e muito intrincada, enriquecendo a mitologia do personagem, que chegou até mesmo a sair do BPDP. Tudo isso levou ao seu sinistro fim, que seria a decisão de destruir ou não o mundo, tarefa para a qual supostamente nasceu. Sem spoilers aqui, hein? Vamos adiante.
Numa de suas muitas andanças por aí, o vermelhão encontra o Papai Noel, ou melhor, o antiPapai Noel, na história intitulada “Krampusnacht”, que já foi publicada aqui no Brasil em 2018 pela Editora Mythos no álbum Hellboy – Edição Histórica, vol. 09 (“Krampusnacht” e outras histórias). A edição é repleta de boas histórias, com renomados autores trabalhando ao lado do criador do personagem, fazendo com que essas tramas curtas e fechadas sejam um deleite para os fãs. O grande destaque com certeza é por conta da trama Krampusnacht (história ganhadora do 13º Eisner ao personagem). Nela, vemos o desenhista Adam Hughes (normalmente associado a desenhos de personagens femininas), com cores de Dave Stewart narrando uma trama na qual Hellboy terá que lidar com um demônio natalino. O roteiro é direto, apresentando seus elementos de forma clara e ao mesmo tempo com um clima insólito.
Mas afinal quem é diabos (perdão pelo trocadilho) é o Krampus? Bom, vamos dizer que é uma versão “do mal” do Papai Noel. Isso mesmo, ele existe e, assim como o bom velhinho, é celebrado em alguns países da Europa e em algumas cidades dos Estados Unidos. Ele é o total oposto do Papai Noel: enquanto a figura do bom velhinho de cabelos e barbas brancas entrega presentes para as crianças no Natal, premiando-as pelo bom comportamento ao longo do ano, o espírito maléfico chega para punir aquelas que não se comportaram. Ele é descrito nas histórias como uma figura bestial, sendo metade cabra (tem chifres, por exemplo) e metade demônio.
Diz a lenda que ele batia nas crianças com um açoite e as colocava dentro de um cesto; em alguns casos, chegava a engoli-las. Na Áustria, onde a lenda é muito conhecida, tem uma festividade em tributo ao personagem. Denominada de noite do Krampus, na maioria das vezes ocorre em 5 de dezembro, véspera do dia de São Nicolau, santo que é inspiração para a figura do Papai Noel. No evento, as pessoas se fantasiam como Krampus, colocam roupas que imitam pele de animais, chifres e tomam as ruas da cidade. Algumas levam correntes e sinos para fazer algazarra – é dessa maneira que o monstro avisaria estar chegando – e saem assustando crianças e adultos.
Em outros lugares do mundo também há a tradição de celebrar o Krampus antes do Natal. Festas de rua acontecem na Baviera, na Alemanha, em vilarejos do norte da Itália e também em Washington e Chicago, nos Estados Unidos. Diz a lenda que depois dessa única aparição, a criatura voltaria a aparecer somente no Natal seguinte. Diversos filmes surgiram nos últimos anos sobre essa figura diabólica, mas um em especial, lançado em 2015, Krampus: O Terror do Natal é o mais conhecido (e melhor, diga-se de passagem). Na história, Krampus aterroriza um garoto que começa a perder o gosto pela comemoração natalina, e a partir daí a coisa só piora.
Portanto, comportem-se, caso contrário, não será o Papai Noel que virá visitá-los no próximo Natal.