Para Se Tornar Um Escritor, Basta Ter Uma História Para Contar

Para se tornar um escritor, basta ter uma história para contar?

Imaginem a simples situação do personagem abaixo:

“Eu sou um leitor assíduo de literatura de ficção e me surgiu de repente o desejo de escrever uma história. Nunca escrevi na vida, sou dado apenas à leitura e às postagens de resenhas que me aventuro a colocar no Instagram ou blog pessoal.

No entanto, as ideias estão fervilhando na minha cabeça e eu preciso colocá-las para fora. Vou pegar meu celular e começar a escrever. Não. Eu preciso de um computador, mas eu não tenho um. E agora?

Tenho condições de comprar um computador de configuração simples, apenas para digitação de documentos, não deve ser tão caro. Um de, mais ou menos, R$ 1.500,00 deve dar.

O computador chegou, vou ligar e começar agora mesmo a escrever a minha história. O software de texto é uma versão de avaliação. Não dá nada, quinze dias é mais do que suficiente para eu terminar de escrever antes que a versão gratuita expire.

Ótimo, terminei em treze dias. Gostaria de ter sido mais rápido, porém tenho outras atribuições durante o dia. Trabalhar, arrumar casa, cozinhar, dar atenção à família, ler. Sem problemas, agora é só publicar. Seria interessante mandar para um amigo ler primeiro? Sim, melhor fazer isso.

Meu amigo até gostou, mas encontrou bastantes erros ortográficos e furos na escrita. Ele me indicou uma revisora, mas eu não quero pagar ninguém para melhorar meu texto. Eu mesmo vou corrigir. E se ela meter a faca na hora de cobrar? Quanto será que custa uma revisão?

Ótimo, ainda tinha dois dias de gratuidade do software de texto. Agora deve estar tudo certo, porém meu amigo não tá com tempo para reler minhas alterações. Não tem mais nenhum erro, certeza.

Agora sim, finalmente! Só publicar em formato e-book mesmo. Vejo um monte de gente fazendo isso, não deve ser complicado. Precisa ter conta corrente? Vou ter que ir ao banco abrir uma conta só para isso? Não serve poupança?

Muito bem, agora vai. Conta feita e fornecida, nome e sinopse da história, ok. Que isso? Esqueci do mais importante: a capa. Capas são muito caras, prefiro comprar uma pré-pronta em um perfil que vi esses dias. Não tem muito a ver com a história, mas não pago por uma personalizada. Eu devo ganhar dinheiro com a minha obra e não gastar.

Enquanto a pessoa coloca minhas informações na capa, envio o texto de novo para meu amigo. Ele agora veio com a história de que eu preciso ainda de uma revisora e de alguém para editar meu texto. Ele não sabe de nada. Vou procurar outra pessoa para ler.

Não teve jeito, todo mundo vê o mesmo problema. Tive que desembolsar dinheiro para revisão e para edição. Vou mandar o texto pra minha tia, ela ama ler.

Finalmente! Minha tia leu e amou! Já fiz o upload da capa e do texto, agora é só aguardar. Enquanto isso, vou ver como que ficou no pré-visualizador. Que merda! A diagramação ficou toda errada. No programa de texto não estava assim!

Uma amiga escritora disse que preciso de um diagramador e que seria bom eu pagar um curso de escrita futuramente. Tá de brincadeira, né? Eu sei diagramar um texto. Eu sei escrever. Digito contratos na empresa que trabalho há mais de dez anos!

Não adianta o que eu faça, sempre fica com espaço demais, quebra de página errada. O diagramador vai levar mais dinheiro e eu não posso gastar, mas não vou desanimar, quero ser escritor.

Consegui, não falta mais nada. É colocar o valor do e-book e pronto. É claro que não vou fazer como esses escritores sanguessugas que cobram mais de dez reais em um livro digital. Vou vender a três reais, porque esse é o preço justo para um e-book. Se fosse físico, eu até entenderia o lado deles.

Eu vou ganhar só 30% do valor? Tá de sacanagem?

Mas… e todo o dinheiro que eu gastei pra poder publicar? O valor que gastei com capista, diagramador, revisor e editor? E o computador que eu comprei? E o tempo que usei para isso?

E…se eu começasse a valorizar o trabalho de quem quer viver da escrita?”

Ter uma história para contar é só o primeiro degrau de uma longa escada. Controle a respiração e tenha firmeza nas pernas.

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