
Em um amplo universo do que podem ser dicas de escrita — e, acredite, é grande mesmo —, pensei em começar esta nossa conversa partindo do ato de escrever. E do quanto escrever não é fácil. “Ah, então você está dizendo que apenas os eleitos são capazes de escrever?”, sei que foi o que pensou do outro lado da tela.

Como várias atividades que começamos na vida, seja na área intelectual — aprendendo um novo idioma—, seja uma prática física — como aprender a nadar —, partimos de um ponto zero ou quase zero. Digo quase zero porque, mal ou bem, todos temos um repertório inicial que pode ou não (e é aí que mora o perigo) se expandir no processo. O que quero dizer é que escrita é exercício, e não falo apenas de escrita ficcional. Ou você acha mesmo que basta iniciar a vida acadêmica para saber redigir um artigo, com tudo o que se espera de um? Ou que um publicitário recebe o dom de uma escrita objetiva, concisa e direcionada por milagre? Na-na-não! Houve bastante trabalho intelectual no meio do caminho.
Se a gente pensar que até mesmo a aquisição da escrita vem de um processo mecânico e prático, bem, então dá para vislumbrar o que reforcei ali em cima.
E a criatividade?
Vou contar um segredo: ela também parte do exercício. Ok, eu admito que há pessoas que têm facilidade para ter ideias, mas a criatividade vai além de ter as ideias; é saber como colocar tais ideias em prática.
De novo a história da prática? Sim! A criatividade também tem a ver com expansão do nosso repertório (seja linguístico, seja cultural) e da nossa capacidade de observação. Isso nos ajuda muito quando precisamos descrever um ambiente (algo palpável), ou uma sensação (algo subjetivo); a abstração se trata disso: vislumbrar o todo a partir das partes, e, em muitos momentos, escrever se trata de abstração — não só escrever, mas de operar linguagens, e entraria aí até a matemática, mas vou deixar esse papo pesado pra lá.
O que quero dizer é, mesmo que pareça contrariar o que disse lá no início, qualquer pessoa pode escrever. Não é uma habilidade trazida pelas musas para os escolhidos em um livro sagrado. É trabalho.
Para esse nosso primeiro encontro, vou deixar para vocês um ditado alemão de que gosto muito: a prática faz o mestre. Isso significa que vou fechar esse post falando “se você quer ser escritor, tem que escrever 1000 palavras por dia”? Não, pode ficar calmo. Apesar de a execução ser importante para solidificar e organizar nossos processos mentais — e vamos conversar sobre isso quando eu falar de coesão, por exemplo —, convido cada um de vocês, antes de tudo, a pensarem em suas próprias referências, já que são elas que trazem o repertório.
Pensem nas histórias que querem criar e nas pessoas que querem atingir. Preparar o terreno para abrir o editor de texto e digitar também faz parte da prática, ou você já viu alguém correr uma maratona sem aquecimento? Ah, e não esqueçam: inspiração é só 10% do caminho; os outros 90% são de transpiração.
Até nossa próxima conversa!
 
								 
								 
															 
							
 Marcos Tadeu
Marcos Tadeu		
 Charlitto Ogami
Charlitto Ogami		
 Juliane Vicente
Juliane Vicente		 
				
 Thassio Capranera
Thassio Capranera		
 Julia de Passo Ramalho
Julia de Passo Ramalho		
 Stefano Pelletti
Stefano Pelletti		 
															