A edição é linda, assim como as demais da Editora Diário Macabro, cuidadosa e toda combinada na cor roxa. A diagramação é confortável, fazendo com que o leitor não sinta as páginas e leia voando.

RESENHA: Toda noite é um abismo – Felipe Teodoro

Ter firmado uma parceria com a Editora Diário Macabro foi uma das melhores coisas que me aconteceram esse ano. Digo isso porque é por essa parceria que estou conseguindo conhecer novos autores nacionais incríveis e impressionantes, os quais já não consigo viver sem. Felipe Teodoro é uma dessas gratas e inesquecíveis surpresas.

O mais incrível dessa experiência é constatar que, talvez antes eu não desse uma oportunidade para tais autores, já que costumo sempre ler os mesmos e já adorados, mas que agora eles e elas se encaixam no meu hall de preferidos. Talvez eu nunca tivesse lido Toda Noite é um Abismo se não fosse a oportunidade dada pela Editora Diário Macabro, e isso teria sido uma perda enorme para mim, tanto em experiência como leitora quanto também em experiência pessoal.

Toda Noite é um Abismo mudou minha visão para muita coisa, principalmente no aspecto de importar-se com os problemas do próximo e olhar além do que o meu próprio nariz proporciona; focar na ansiedade, nos anseios e complicações de pessoas que conheço, e que nem sei que passam por tais horrores. Perceber que todos temos monstros dentro de nós, mas que alguns podem ser deixados à completa extinção.

Título: Toda Noite é um Abismo
Autor: Felipe Teodoro
Quantidade de páginas: 138
Editora Diário Macabro
Gênero: Ficção / Terror
Ano: 2019
Skoob: Clique Aqui
Compre: Amazon | Diário Macabro
Minha classificação: ★★★★★ (5/5)
* Livro cedido pela editora

Uma coletânea intensa, sem pudor ou amarras

Começo essa resenha já dizendo que ler Toda Noite é um Abismo não é fácil, muito menos agradável. A coletânea, composta por 12 contos, todos escritos pelo autor Felipe Teodoro, traz um terror psicológico intenso, frenético e sem papas na língua, sendo assim uma leitura que poderá — e deixará — o leitor mal e pensativo durante horas após a sua experiência com o livro.

Nessa coletânea, você encontrará assuntos que abordam desde o luto severo de uma mãe a vícios, depressão, e loucuras de outros protagonistas, alguns marginalizados pela própria sociedade e esquecidos pela população de bem. Com descrições pesadas e cruas, e por meio de uma escrita direta, o gore é elemento essencial em certas histórias, mesclando o melhor do terror com o pior da realidade.

Cada conto tem o poder de tocar, de diferentes formas, com profundidade o leitor, deixando expostos como os monstros e demônios muitas vezes vivem dentro de nós, do outro, de todos. É uma leitura impactante, que gruda na cabeça e não é fácil de ser esquecida, colocada de lado ou até mesmo ignorada.

Por todos esses elementos, deixo aqui o aviso dos gatilhos que podem conter no livro. Há cenas fortes e descrições de possíveis estupros que podem incomodar, chocar e fazer mal a algumas pessoas. Se você é sensível a esse tipo de narrativa, indico que não leia o livro. Lembre-se de que a sua saúde mental sempre virá antes, sendo prioridade.

A edição é linda, assim como as demais da Editora Diário Macabro, cuidadosa e toda combinada na cor roxa. A diagramação é confortável, fazendo com que o leitor não sinta as páginas e leia voando.
A edição é linda, assim como as demais da Editora Diário Macabro, cuidadosa e toda combinada na cor roxa. A diagramação é confortável, fazendo com que o leitor não sinta as páginas e leia voando.

Um pouco sobre cada conto:

A coletânea inicia com “É Sempre Noite”, um conto no qual observaremos o sofrimento do luto de uma mãe. É asfixiante, desesperador e igualmente impactante. Posso inclusive afirmar que o livro já me ganhou nessa primeira história, sendo uma das minhas favoritas. Em seguida há “Ouro Verde”, uma narrativa que acompanha um professor que escreve uma história tomando por base um aluno viciado em drogas.

Depois, em “O Show Não Pode Parar”, conheceremos José, um garoto que está observando a apresentação d’A Besta, um monstro terrível, asqueroso e perigoso. Já em “Maria da Conceição”, um conto bastante forte, veremos a situação de uma garota que foi negligenciada durante toda a sua vida e agora procura por uma espécie de salvação. Essa história me cortou o coração de uma maneira que nem sei explicar. Também está entre os preferidos.

“As Estrelas Debocham dos Homens” traz uma história com foco no tormento de uma família ao se mudar para uma casa nova, onde antes foi palco de crueldades e muito sangue. “Bagunça” também trará uma família como foco, mas agora tendo a mãe como o centro de uma paranoia infindável e aterradora.

Em “Entre Éons” há uma narrativa de abandono por parte do pai, algo que persegue o narrador por toda a história. Mas independentemente — ou dependendo — disso, nosso protagonista cresce e assume uma profissão que o leva pelo mar, deixando-o assim à mercê de boatos que assolam pela água e criaturas protetoras de um tesouro. Já “Vertigem (ou O Mundo Não Desaparece Quando Você Fecha Os Olhos)”, assim como o primeiro conto, traz uma aura de luto e perturbação depois que um homem perde a família em um acidente de carro.

“No Olho do Bicho” narra a chegada de algo misterioso que aparece para levar o narrador-personagem para o pós-vida, tendo assim uma relação entre os dois. Em “Toca do Coelho”, para mim o mais difícil de se digerir, haverá uma narração com detalhes sobre o que possivelmente aconteceu com uma mulher que havia sido sequestrada. É nojento, chocante e muito triste. Eu, como mulher, me senti devastada, atormentada e angustiada.

“Aqui Todo Mundo é Feliz” trará um guarda-roupa como uma parte importante e central da história, na qual, à noite, o objeto convida os seus detentores a aceitarem uma vida repleta de felicidade e escuridão. Para finalizar, há “Horror no Morro”, uma história visceral sobre um garoto, morador da periferia, que passa por horrores perturbadores, como a perda do pai, a depressão da mãe e a fome.

Toda noite é um abismo
Reprodução: Biblioteca Pessoal

Um livro para ser lido quando você estiver bem

Terminei essa leitura na semana passada e ainda não sei o que pensar sobre, apenas sei que devo recomendá-la, mesmo que não seja um livro para qualquer público.

O primeiro conto já me deixou no chão, mal, sentindo muito, intensamente devastada. Eu senti o baque da narrativa e do luto; ali eu soube que não seria uma leitura fácil, muito menos pacífica ou apaziguadora. Foi ali, no primeiro conto, que eu já tive a impressão que levaria tapas na cara, que seria exposta, maltratada e colocada à prova.

Como é uma coletânea de contos, assim como sempre falo, há contos que senti com mais intensidade do que outros, mas, num geral, é uma coletânea excelente que traz muito de nossos monstros e demônios internos, como também os externos. Há descrições pesadas, há gore, há sofrimento. Por isso indico que só inicie a leitura se estiver se sentindo muito bem consigo mesmo, pois é aquele tipo de livro que te faz sofrer e perder a esperança na humanidade, nas pessoas, te faz enlouquecer junto com os protagonistas.

Também é importante ter cuidado com os gatilhos, pois é um livro forte e que incomoda, que causa desconforto. Mas, se esse é o tipo de leitura que você gosta, eu a recomendo de olhos fechados e com propriedade. Leia e sinta, pois apenas assim vocês entenderão o que realmente eu quero dizer.

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