Resenha Comparativa O Enigma De Outro Mundo

Resenha comparativa: O enigma de outro mundo

O ENIGMA DE OUTRO MUNDO – COMPARAÇÃO ENTRE A OBRA LITERÁRIA E SUAS ADAPTAÇÕES

Em 1938, John W. Campbell Jr. publicou uma novela de terror com ficção científica chamada “Who Goes There?”, que se tornou um marco para os gêneros. Isso fez com que a obra tivesse três adaptações para o cinema, uma em 1951 chamada de The Thing From Another World, uma – e a mais famosa das três – em 1982, pelo mestre do terror John Carpenter, chamada apenas de The Thing, e por fim uma versão de 2011, que serve como uma prequela para o filme do Carpenter, também com o nome de The Thing.

A obra era até então inédita no Brasil, mas recentemente a Editora Diário Macabro, em uma campanha de financiamento coletivo pelo Catarse, lançou a obra.

Como o filme de 1982 é meu filme de terror favorito, não pude deixar de adquirir o meu exemplar assim que a editora lançou o financiamento. Como devorei o livro em dois dias, resolvi fazer um comparativo entre a obra original e suas adaptações para os cinemas.

Espero que gostem.

Frozen Hell (versão estendida de “Who Goes There”) /O Enigma De Outro Mundo – Novela de 1938, lançado no Brasil pela Editora Diário Macabro em 2019

A história gira em torno de uma equipe de cientistas que estão explorando a Antártica. Bem no começo da novela, eles acreditam que um meteorito caiu no solo antártico, mas após irem investigar de perto, descobrem que não era um meteorito, mas sim um objeto voador não identificado e dentro dele descobrem um tripulante, um ser estranho azul com três olhos.

A equipe leva esse ser que está congelado para a sua base, com fins de estudar sua genética. Mas descobrem que a criatura está viva, e o pior, que ela consegue imitar qualquer um.

Então começa a tensão da história, onde todos duvidam de todos, onde o suspense paira no ar fazendo com que cada página seja uma surpresa diferente para o leitor, nos deixando com a ânsia de saber o que vai acontecer.

A obra é muito boa (claro, senão não teríamos três adaptações dela). Bem escrita em todos os aspectos. Talvez algum leitor se incomode com os termos científicos meteorológicos que tem no começo e também com a quantidade de personagens.

Um ponto forte da edição da Diário Macabro é a sua formatação, deixando tudo lindo para o leitor não cansar durante a leitura.

The Thing From Another World/O Monstro Do Ártico – Filme de 1951

A premissa do filme é similar com a do livro, uma equipe de cientistas descobre algo enterrado no gelo ártico e pede ajuda para uma base do exército que está ali perto para ajudar a ver o que é. Chegando lá, descobrem uma nave enterrada no gelo com um tripulante dentro. Acreditam ser a descoberta do século e levam o tripulante alienígena (chamado por eles de “O Homem De Marte”) para sua base com os fins de estudo.

É claro que a criatura acorda e começa um jogo de gato e rato, com os membros do exército liderados pelo capitão Henry querendo matar a criatura antes que ela os mate e com um cientista da base cheio de curiosidades sobre a criatura, querendo mantê-la viva para estudos, pois sua genética seria de muito bom uso para a humanidade. O chefe de Henry, por mensagens de rádio, faz questão de que ele mantenha as pessoas vivas, mas que não machuque a criatura.

O filme não foca tanto na criatura, mas sim no embate ciência X exército, com o cientista querendo ela viva e o capitão querendo acabar com ela a qualquer custo. É mais próximo ao que acontecia nos EUA naquela época, afinal o filme é de 1951, quando os OVNIS estavam em alta e acreditavam que a qualquer momento um ataque alienígena poderia acontecer, deixando essa dúvida nas cabeças das pessoas sobre o que fazer caso isso viesse a ocorrer.

A criatura em si aparece poucas vezes durante o filme, e não há aquela tensão da novela sobre ela conseguir se multiplicar e imitar qualquer um.

Um ponto fraco do filme é a quantidade excessiva de personagens, muito mais que na novela. Além dos cientistas e soldados, temos um jornalista (que particularmente achei muito chato) que quer a todo custo registrar a história, pois era a maior descoberta da história da humanidade, e temos também uma assistente do cientista que está no filme apenas para fazer anotações, servir café e ser o par romântico do capitão Henry.

No fim do filme, a ideologia do capitão prevalece e eles matam a criatura. Depois, por uma chamada de rádio, o jornalista dá um discurso heroico dizendo que eles salvaram a humanidade do primeiro ataque alienígena e que era para as pessoas continuarem olhando para os céus, trazendo à tona toda a histeria da época sobre OVNIS e ataques alienígenas.

O filme é um marco para a categoria de ficção científica e é lembrado até hoje como um dos precursores do gênero no cinema, feito com um baixo orçamento e em poucas semanas ele se tornou um sucesso de bilheteria. Mas, infelizmente, envelheceu mal e não é tão memorável assim como seu remake de Carpenter que falarei a seguir.

The Thing/O Enigma De Outro Mundo – Filme de 1982

Em 1982, Carpenter resolveu lançar sua versão do clássico de 1951. De início, o filme não foi muito bem recebido pela crítica nem pelo público, mas ao decorrer dos anos ganhou um status cult, se tornando assim um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.

Diferente da novela e da primeira versão cinematográfica, o filme de Carpenter começa com um husky correndo pela Antártica, sendo perseguido por um helicóptero norueguês. Então, o cachorro chega na base americana a tiros dos noruegueses. Os americanos acham que estão sendo atacados e revidam, sem entender o motivo da ação. O cachorro fica na companhia dos americanos e é ali que a história começa a desenrolar.

Na realidade, o cachorro era uma cópia do que fora um cachorro. Os americanos descobrem isso da pior forma possível, com a criatura tentando pegar a forma dos demais cachorros da base e de seus tripulantes.

O filme traz de volta toda a tensão de “quem é quem” que está no livro, e traz de uma maneira mais forte, o telespectador não sabe mesmo distinguir quem fala a verdade ou não, quem a criatura pegou ou não.

Ao contrário das outras versões, o filme não tem tantos personagens, aumentando assim a tensão e fazendo com que tenhamos empatia por eles, afinal, todos foram muito bem trabalhados e todos os atores tiveram ótimas atuações, destaque para Kurt Russel no papel de MacReady, uma das melhores atuações de sua carreira.

Além disso, o filme tem também ótimos efeitos de gore e body horror, bem à frente de seu tempo, e a trilha sonora de Enio Morricone (uma lenda dos filmes western) é impecável, nos deixando tensos a todo momento.

O final do filme está cercado de teorias, principalmente sobre a indagação: “acabaram ou não com a criatura?”, já que há apenas dois sobreviventes ao final.

Como disse antes, o filme é um clássico até hoje e cada vez que assisto eu amo mais e mais.

The Thing/A Coisa – Filme de 2011

Quando foi lançado, várias pessoas acharam que seria um remake do remake, e que cá entre nós, seria bem desnecessário. Mas, foi informado que o filme seria uma prequela do filme de 1982, contando o que aconteceu na outra base e como que a criatura-cachorro conseguiu sua fuga, se tornando assim o filme do Carpenter.

Essa versão tem bastante do que Carpenter fez, principalmente com o estilo da criatura, e traz também bastante das obras anteriores, como a descoberta e a pesquisa sobre o que estava embaixo do gelo.

Infelizmente, o filme não é tão bom assim, mas está longe também de ser ruim, diria eu que o filme é ok. Os efeitos CGI são bem fracos, decepcionando quem esperava um body horror igual à versão de 1982. As atuações não são tão marcantes assim, mas também não temos os personagens descartáveis como na versão de 1951.

É um filme bom para assistir quando não se tem muito o que fazer, mas caso for assistir achando que será uma obra prima igual ao seu antecessor eu digo que você sairá um pouco desapontado.

The Thing, de 1982, é meu filme de terror favorito e por muito tempo achei que ele tivesse sido inspirado por Nas Montanhas Da Loucura, do mestre Lovecraft. Quando descobri que ele era baseado em outra obra, fiquei doido para ler, mas, para minha tristeza, ela nunca tinha sido publicada no Brasil.

Agradeço imensamente à Editora Diário Macabro por nos trazer essa obra, matando a curiosidade dos fãs de saber como que começou toda essa história.

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