Como essa é a primeira postagem da coluna aqui no Blog, vou dar uma colher de chá para vocês e explicar o que é RPG. Prestem atenção, pois não vou repetir: RPG (role-playing game) é um jogo de interpretação de papéis em que os jogadores agem como personagens em um universo fictício, sustentado por um sistema de regras que media conflitos e promove imersão. Em poucas palavras, é um faz-de-conta com regras.
A maioria das pessoas ao se relacionar com o RPG enxerga essa atividade como um simples jogo, quando, na verdade, é um tipo peculiar de mídia. E é aqui que encontramos a primeira diferença entre literatura e RPG: apesar de ambas serem mídias, a literatura é uma mídia de mão única, na qual o autor constrói o conteúdo a ser transmitido e o leitor recebe tal conteúdo. Já o RPG é uma via de mão-dupla, não tão diferente das mídias sociais, em que todos são comunicadores e recebedores da informação criada.
Em termos práticos, na literatura você tem um autor que cria um universo fictício e acontecimentos dentro dele; a história é dele, os personagens são dele, tudo ali partiu de sua própria imaginação. No RPG, toda a construção da história, desenvolvimento dos personagens e do mundo é compartilhada entre os participantes.
Além disso, as habilidades para ser um bom escritor de literatura diferem das necessárias para ser um bom RPGista. Claro, no cerne de ambas as atividades está a criatividade, mas quem escreve (e quem joga) sabe que não é só isso. O autor precisa de uma organização mental peculiar para ordenar as ideias sobre as situações ficcionais, precisa de um vocabulário extenso e de capacidade de comunicação escrita. Já o RPGista precisa de uma boa capacidade de improviso, uma boa comunicação oral e um feeling especial para captar e criar momentos únicos sem nenhum preparo.
Mas, então, qual o sentido dessa coluna se literatura e RPG são duas coisas tão diferentes? Elementar, meu caro Watson! Sabe como você ganha uma boa capacidade de improviso e cria momentos ímpares sem preparo? Graças às referências que você adquire através do consumo de literatura. Ah, e lembra que falei de boa comunicação oral? Bom, você chega lá com um hábito constante e diversificado de leitura, que vai lhe dar referências de linguagem.
A criatividade é alimentada por tudo que você lê, assiste, vivencia. Tudo isso cria referências às quais pode apelar para tecer histórias maravilhosas, seja em um conto, ou em uma campanha de RPG.
Nossa coluna, então, será sobre a intersecção desses dois mundos parecidos, mas diferentes. É, in ultimis, sobre referências.
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