Vol. 1 – Type O Negative.
Olá, queridos leitores! Inicio o ano de 2021 com muita gasolina no tanque, inspirado em trazer mais coisas legais para este blog. Para tanto, pensei em um tema que muitas vezes surgiu em conversas com amigos e conhecidos: quais são as melhores músicas para conhecer uma banda? Qualquer banda, não precisa ir longe, tem seus pontos altos, seus acertos e eventualmente seus não tão acertos assim. No entanto, se trilharmos o caminho, é possível dar valor até aos pontos mais afastados do auge criativo/técnico de um grupo de músicos.
Longe de querer ditar regras, penso em fazer uma espécie de guia prático, com algumas faixas que podem auxiliá-los a entender e até gostar de algum artista que nunca tenham ouvido. Pensei neste formato para apresentar sons não tão convencionais, pincelando fatos interessantes sobre as bandas sem precisar contar toda a biografia desses artistas — textos que são abundantes por todo o vasto reino da internet.
Para iniciar o quadro de postagens, que pretendo fazer mensalmente, escolhi uma banda, apresentada a mim de um modo que não me cativou, e que só anos mais tarde, quando trilhei meu próprio caminho, comecei a apreciar o som, a temática e as piadas — elas são inúmeras, e algumas nem caberão aqui por diversos motivos e será de responsabilidade do ouvinte encontrá-las e apreciá-las. Foi assim que o Type O Negative se tornou uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos.
Vale sempre lembrar que a recomendação deste blog é usar fones de ouvido.
LADO A
01. Christian Woman
Vamos começar pelo começo, ou melhor… Quase. “Christian Woman” foi a música que jogou o Type O Negative num patamar inesperado até para a banda. É provavelmente a música mais herética do grupo e relata o relacionamento — religioso e carnal — entre uma moça cristã e Deus.
A canção está presente no terceiro e mais icônico álbum da banda, Bloody Kisses (1993) — o maior sucesso comercial da banda e os primeiros Discos de Ouro e de Platina da história da gravadora Roadrunner — que definiu e alçou sonoramente e esteticamente todo o movimento Gothic Metal. Nesta faixa podemos ter uma boa noção do humor de Peter Steele e seus companheiros de banda, pois a construção lírica é simplesmente genial.
“Christian Woman”, com seus quase nove minutos de duração, chegou a tocar nas rádios — reza a lenda que antes da versão editada para a rádio, a banda alterou a duração da canção nos encartes dos discos enviados para as rádios — em plena era do grunge.
02. Love You To Death
Após o sucesso comercial de Bloody Kisses, o Type O Negative precisava de mais um lançamento para solidificar ainda mais sua temática gótica e sua sonoridade pesada, depressiva e sexual.
Nesse contexto, em 1996 a banda lança October Rust — o primeiro com o baterista Johnny Kelly, que ficaria até o fim na banda. O disco é ainda mais maduro que seu antecessor — esse foi o que me pegou — e traz novamente canções com diversas camadas, letras profundas e bem trabalhadas.
“Love You To Death” é a primeira faixa musical do disco (sendo a terceira no track listing) e embala o romance de qualquer casal.
03. Everything Dies
O quinto lançamento da banda, World Coming Down (1999), trouxe ao mundo um Type O Negative bastante diferente. Bem afastado da temática gótico-romântica, que tratava de sexo e términos de relacionamentos, o disco trata basicamente de luto e uso — e abuso — de drogas.
“Everything Dies” foi um dos singles do álbum, e o título é bem explicativo, tratando do fato de que todos um dia morrem e sobre a saudade que permanece entre aqueles que estão vivos.
04. I Don’t Wanna Be Me
De certa forma, toda a negatividade de World Coming Down pesou muito sobre o quarteto e em 2003 é lançado Life Is Killing Me.
É o disco mais rápido e enérgico da carreira da banda, recheado de canções com pitadas de hardcore/crossover/thrash metal característico de algumas faixas de discos anteriores. Além disso, paira sobre o disco uma aura meio Black Sabbath nos riffs e Beatles em algumas orquestrações.
“I Don’t Wanna Be Me” é uma faixa poderosa, que trata sobre aceitação e as mudanças autoinfligidas para que sejamos aceitos em grupos ou para que conquistemos as pessoas que desejamos.
05. The Profit of Doom
Em 2007, é lançado Dead Again — último disco da banda — marcado pela mudança de gravadora, sendo o primeiro e único lançamento do TON com a SPV/Steamhammer Records. Esse lançamento mostra que o Type O Negative ainda tinha muito gás para continuar, caso Peter Steele não tivesse falecido em abril de 2010.
“The Profit of Doom” é uma das faixas mais poderosas da história da banda, e muito provavelmente do metal. É impossível botar pra tocar e não sentir o vento frio do Apocalipse alarmar os pelos da nuca.
A construção lírica, como sempre, é digna de nota — a brincadeira entre “Profit of Doom” e “Prophet of Doom” é genial — e as mudanças climáticas ao longo da canção a tornam ainda mais emblemática — berre comigo: MY SOUL’S ON FIREEEEEEEEEE!
LADO B
06. Wolf Moon (Including Zoanthropic Paranoia)
Agora que passamos por alguns singles, podemos tratar das coisas sérias. “Wolf Moon (Including Zoanthropic Paranoia)”, do October Rust, é uma faixa bastante interessante: um lobisomem, transformado durante a lua cheia, pratica sexo oral em sua parceira durante o período menstrual.
Apesar de todo tabu envolvido, a abordagem é bastante romântica, com passagens instrumentais quase etéreas e místicas, um trabalho primoroso de produção do tecladista e produtor da banda, Josh Silver.
07. All Hallows Eve
Para quem já acompanha esse blog, a faixa “All Hallows Eve” não é novidade, pois está na nossa playlist de Halloween. E bom, é disso que ela trata.
Depois de uma contextualização climática, a canção nos carrega para uma escura noite de Halloween, na qual um sujeito apaixonado recita feitiços, performa rituais e vende sua alma para trazer sua amada de volta à vida uma vez ao ano.
Além de ser uma faixa bastante pesada e com passagens melódicas, é uma das muitas que conta com o guitarrista Kenny Hickey revezando os vocais com Peter Steele.
08. Anesthesia
Essa muito provavelmente é a minha faixa preferida do Type O Negative. “Anesthesia”, do Life Is Killing Me (2003), é uma faixa poderosíssima, que contrasta com toda a temática romântica/sexual do período em que a banda esteve no auge.
Não é uma canção leve, não é uma canção fácil. É uma faixa pesada, que trata do uso e abuso de drogas como meio para se escapar de uma decepção amorosa. “Anesthesia” vai gradativamente aumentando sua tensão e sua densidade, atingindo um ponto em que não se pode sentir mais nada.
09. We Hate Everyone
Desde o primeiro disco, o Type O Negative foi uma banda que se envolveu com polêmicas, e nem sempre o que os fãs enxergam e compreendem é visto por observadores externos.
Existe uma máxima, quase como um lema da banda: “As coisas que vocês acham que estamos zoando, na verdade estamos falando sério. As coisas que vocês pensam que estamos falando sério, na verdade estamos apenas zoando.” Ou seja, o Type O Negative foi uma banda que pisou onde nenhuma outra banda de metal, ou mesmo de rock, ousou pisar. Sem nunca se levar a sério.
“We Hate Everyone” é uma faixa que trata a respeito disso. De um lado, a banda era atacada por conservadores americanos de direita — que os chamavam de comunistas —, que buscavam de todas as formas censurar músicas e capas de discos. Do outro lado, majoritariamente na Europa, grupos antifascistas acusavam a banda de propagar ideias de direita — e os chamavam de fascistas. Então, com uma faixa só, a banda respondeu os dois lados.
A canção lembra a fase de Glenn Danzig no Misfits, e tem uma sonoridade mais voltada ao hardcore/crossover/thrash metal. Numa rara reedição do disco, a faixa foi retirada do track listing por conta da diferença para com o restante das faixas.
10. The Misinterpretation of Silence and Its Disastrous Consequences
A última faixa que proponho para aqueles que pouco ou nada conhecem do Type O Negative é “The Misinterpretation of Silence and Its Disastrous Consequences” do primeiro disco da banda, Slow, Deep and Hard (1991).
A faixa traz todo o humor — nem sempre compreendido — de Peter Steele, Josh Silver, Kenny Hickey, Sal Abruscato —, que posteriormente seria substituído por Johnny Kelly.
Os dois primeiros discos da banda, Slow, Deep and Hard (1991) e Origin of the Feces (1992), tratam de temáticas e sonoridades diferentes do que depois se tornou sólido na estrutura do Type O Negative, e ao meu ver não precisam estar entre as primeiras faixas a serem escutadas por ouvintes novos.