E Preciso Coerencia

É preciso coerência!

Na vez passada, falei por aqui da importância da verossimilhança na construção da narrativa de ficção — algo fundamental — e lá mencionei sobre a coerência interna como parte imprescindível da criação de uma realidade.

Acredito que todo mundo saiba o que é coerência, falo de uma forma bastante geral mesmo. A frase que dá título ao post já saiu da boca desde participantes do BBB até sua professora de redação no Ensino Médio. Só para relembrar: coerência tem a ver com a lógica, a harmonia entre os dados daquilo que é posto. Algo incoerente geralmente nos soa estranho ou incômodo e nos faz, inclusive, duvidar do que estamos vendo ou lendo.

Como parto do princípio de que textos são também não-verbais, um exemplo interessante de incoerência seria algo como uma publicidade falando de comida italiana, mas com a foto do Big Ben. As informações dadas são conflitantes e, convenhamos, isso gera desconfiança. Dependendo do grau de incoerência ou de em que tipo de discurso ela aparece, pode gerar, inclusive, a impressão de desonestidade intelectual, algo bastante sério em casos de textos de não-ficção.

Em um texto de ficção, a coerência ganha um peso grande no que diz respeito ao desenvolvimento e à formação da lógica — temporal, espacial, de motivação dos personagens — da história que pretendemos contar; e, olha, por mais que pareça circular, isso volta para a verossimilhança.

Imagine que ao longo de um romance, a personagem principal é construída como alguém despido de sentimentos como ciúme, necessidade de posse, mas, chegando ao final, descobrimos que, na verdade, seu grande segredo é ter matado o marido e a motivação foi ciúmes dele com a vizinha. Percebem que isso soaria como um recurso pouco lógico? A não ser que o escritor crie uma boa explicação para essa “enganação”, o leitor sentirá que a narrativa foi um grande embuste, o que pode prejudicar a experiência.

“Mas, Úrsula, eu quero dar pistas sutis de que o leitor está sendo levado ao engano propositadamente!” Aí entrará um trabalho discursivo que vai muito além de apenas esconder ou não informações. Entrará em jogo a escolha de palavras, possível uso de ambiguidade semântica (ou seja, deixar que o leitor faça inferências múltiplas no sentido) e, no âmbito geral, como o princípio, o meio e o fim da história se conectam — algo que precisará da ajudinha da coesão, a amiga inseparável da coerência e assunto do nosso próximo post.

Passados três posts, acho que já dá para perceber que a construção do texto — de ficção ou não — passa por questões que não são estanques entre si, mas se amalgamam e coadunam. É impossível falar de verossimilhança sem referências; não tem como falar de coerência sem falar de coesão; e não tem como pensar um texto verossímil que deixe de lado a coerência interna e externa.

Contem para mim nos comentários se já tiveram a percepção de falta de lógica em reportagens, livros ou publicidade. A internet é um terreno fértil para memes que exploram justamente isso!

Até nosso próximo post!

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